terça-feira, 17 de novembro de 2009

Você tem fome de quê?

As perspectivas para o futuro dos jovens da periferia

“A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte” já falava a canção dos Titãs em 1987. Hoje, 22 anos se passaram e as necessidades dos jovens da periferia de São Paulo são as mesmas. Segundo dados da Fundação Seade: 65% da população entre 15 e 19 anos mora na periferia, onde faltam os mais diversos serviços públicos como: educação, cultura, lazer, empregos, esportes entre outros.
Mas como vivem esses jovens? O que pensam? Quais suas perspectivas para o futuro? Seus desejos e sonhos? As histórias que veremos agora são de jovens que sabem que as dificuldades para conseguir realizar seus objetivos são difíceis, mas lutam para que possam vencer seus maiores desafios e um dia obter o sucesso almejado.

“Hoje em dia o que mais importa para se conseguir um emprego é o Q.I (quem indica)”, desabafa Everton Costa Ferreira, de 26 anos, que mora no bairro Vila Nova Cachoeirinha. Everton está desempregado há cinco meses, para ele, emprego está cada mais difícil, “Estou procurando até na área de telemarketing, mesmo tendo experiência como segurança”.
As declarações de Everton fazem sentido, pois de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), a taxa de desemprego juvenil em vários bairros da periferia chega a 70% - a média para todas as idades gira em torno de 16%. Apenas na cidade são cerca de 500 mil pessoas desempregadas entre 15 e 24 anos, o suficiente para lotar aproximadamente oito estádios do Morumbi. A maioria desses jovens não estuda nem trabalha.
Perguntado sobre a possibilidade de fazer uma faculdade, Everton diz: “Faculdade não é meu forte, nunca fui de estudar, meu sonho é ter minha própria empresa, hoje em dia isso dá mais futuro que uma faculdade”. Everton mora sozinho, numa casa alugada e está recebendo as parcelas de seu seguro desemprego. “Quando esse dinheiro acabar, não sei o que vou fazer”, desabafa.
“Não tenho mais expectativas”, conta a jovem Aline Lacerda de 20 anos, que mora no bairro do Jardim Penteado, como muito de seus amigos Aline estuda á noite para trabalhar de dia, mas no momento esta desempregada, “É muito difícil arrumar um emprego sem experiência”, desabafa a jovem que está do 3º ano do ensino médio. Questionada sobre qual seria seu maior sonho a jovem confessa: “Ser rica, para poder gastar muito”, (risos). O sonho de Aline está bem distante de ser tornar realidade, de acordo com Márcio Pochmann economista da Unicamp e diretor do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (IPEA), a desigualdade social entre os jovens está cada vez maior segundo o economista no Brasil hoje temos 37 milhões de jovens na faixa etária de 16 a 24 anos. A metade desses jovens não estuda. A outra metade que estuda está fora da série. Isso distancia mais ainda o jovem da periferia de fazer uma faculdade, pois o tempo que seria de estudo acaba se tornando exclusivamente para o trabalho.

Everton Costa, está desempregado há mais de 5 meses

Um Oasis da cultura

Entrada do Centro Cultural Ruth Cardoso em Vila Nova Cachoeirinha

Localizado na Vila Nova Cachoeirinha, o Centro Cultural da Juventude está posicionado em um ponto estratégico, fica próximo a bairros como Brasilândia e Jardim Paulistano. Destaca-se também pela sua diversidade e qualidade de programação. O projeto foi criado em 2006 e é uma iniciativa da prefeitura, tendo como referência o já consagrado Centro Cultural Vergueiro, porém mais voltado para o público jovem. De acordo com Bruno Pastore, um dos monitores do centro cultural, a programação muda a cada mês. “Nossa programação básica é composta por teatro, cinema, shows, palestras, mas varia de acordo com o mês. Em novembro, por exemplo, a programação será feita só por nós, monitores”.
O prédio tem 8.000 metros quadrados, o ambiente é arejado e conta ainda com biblioteca, anfiteatro, teatro de arena, sala de projetos, internet livre, laboratório de idiomas, laboratório de pesquisas, estúdio para gravações musicais, ilhas de edição de vídeo e de áudio, ateliê de artes plásticas, sala de oficinas e galeria para exposições, além de uma área de convivência que os usuários podem usar para estudos ou apenas lazer. “Os usuários ainda podem usar as salas de oficinas para ensaios de teatro ou reuniões, agendando previamente. O espaço está aberto para toda a população”, destaca Bruno.
O estudante Jean Lucas, de 17anos, é um freqüentador assíduo do espaço, ele participa do curso de teatro e artes plásticas. O jovem vai ao CCJ pelo menos três vezes por semana. “As atividades ocupam muito tempo, para nós, que não temos muito o que fazer por aqui, isso é muito bom”. Morador do Jardim Paulistano, o jovem também participa do projeto “Bandeirantes” o qual fornece noções de cidadania e encaminha jovens para o primeiro emprego.

Marília Pereira Lima, 20 anos, está desempregada, a jovem que já trabalhou como babá, balconista e até de faxineira pretende ocupar o tempo livre com algum curso, está na dúvida se faz teatro ou violão. Marília mora com sua mãe, e doze irmãos, todos menores que ela. “Lá em casa só quem trabalha e minha mãe, eu ajudo quando faço uns “bicos”, mas não é sempre que consigo”. O futuro profissional da jovem ainda é incerto, mas seu grande sonho e ter seu próprio negocio. “Meu sonho mesmo é ser cabeleireira profissional, pretendo fazer um curso, só me falta o dinheiro”.

No CCJ também há histórias de jovens que passaram de usuários para funcionários, esse é o caso de Barbara Pino, 18 anos. A jovem, que é monitora da Biblioteca, já foi freqüentadora do espaço. “Eu fazia curso de teatro, artes plásticas, de tanto freqüentar o lugar fui convidada a trabalhar por aqui. Hoje trabalho no que eu gosto”.
Barbara passou de usuária para funcionária

Mesmo com ótima programação e oferecendo serviços aos jovens, o centro cultural ainda não atingiu seu público alvo: o jovem da periferia. Segundo Marília Jahnel, coordenadora de programação do CCJ, o espaço não é freqüentado só por jovens do local. “É normal aparecer gente de todos os bairros de São Paulo, às vezes até de outra cidade só para conferir alguma atividade”.
Em meio a tanta violência, desemprego, preconceito e descaso com o jovem da periferia, o CCJ Ruth Cardoso se destaca por ser umas das únicas alternativas de atividades culturais do local e acaba virando um “oasis” em meio a deserto de conhecimentos em que vive hoje o jovem da periferia.

Francisco Lima e Nicolli Oliveira

ServiçoO CCJ Ruth Cardoso fica na:
Avenida-Deputado Emílio Carlos, 3.641 (ao lado do terminal Cachoeirinha)
Vila Nova Cachoeirinha – São Paulo – SP
Tel.: (11) 3984-2466

CONFIRA AQUI A PROGRAMÇÃO COMPLETA DO MÊS DE NOVEMBRO DO CCJ RUTH CARDOSO
http://escuta.estudiolivre.org/arquivos/2009/10/folder-novembro.jpg

sábado, 14 de novembro de 2009

Lan Houses: A febre do momento

Como uma das únicas formas de entretenimento na periferia, lan houses se tornam “points” de encontro dos jovens

Laboratório de informática do CCJ Ruth Cardoso

O uso internet se torna cada vez mais frequente nas periferias do Brasil e ainda mais em São Paulo. O que antes era privilégio das pessoas de poder aquisitivo mais alto, hoje é difundido para todos, graças ao surgimento e crescimento das lan houses (estabelecimentos que vendem o uso da internet).
As lan houses diminuem a distância entre os jovens da periferia e os jovens de classe média. “Nas lan houses os jovens veem não só uma forma de entretenimento, mas também uma maneira de se mostrar para o mundo e também de ver o mundo. É um modo de participar desse processo global e hegemônico como pode, com os meios que lhe são disponíveis,” afirma João Daniel Donadeli, criador do documentário Periferia.com, que trata desse assunto.
A internet é uma das únicas formas de entretenimento dos jovens da periferia, que utilizam sites como Orkut, Youtube e Messenger. Também proporciona contato com outras culturas, acesso a sites de emprego e serviços como atestado de antecedentes criminais e solicitação de CPF.
Segundo o Comitê Gestor de Internet no Brasil, as lan houses respondem por cerca de 49% dos acessos à internet no País.
O único problema desta nova variedade de conhecimento e cultura é a existência de grande informalidade no setor, agravada pela criação de cadastro dos usuários e a cobrança de ISS e taxa de licenciamento para abrir este tipo de negócio. O representante da Associação Brasileira dos Centros de Inclusão Digital, Rafael Maurício da Costa enfatiza: “Se tivéssemos leis que tratassem as lans houses a partir de seu potencial inclusivo, não teríamos 83% delas na ilegalidade”. Fato que se torna mais nítido ao decorrer dos anos, mostrando impossível ser ignorado pelo governo.
Existem também iniciativas gratuitas de acesso a internet, como a da prefeitura de São Paulo, que criou o Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, no bairro Vila Nova Cachoeirinha, que disponibiliza cursos básicos de como acessar e-mail e mandar curricullum on line, além de ter outras atividades culturais. “Alguns jovens chegam sem saber nem o que é mouse, e saem mandando e-mails e mandando “scraps” no Orkut, outros já sabem acessar e vem apenas porque é gratuito, ainda bem que aqui, os sites de relacionamentos são liberados”, explica Marcos Silva, professor voluntário dos cursos de inclusão digital. Marina Souza, freqüentadora assídua do centro cultural também diz: Este espaço é maravilhoso, uso para fazer trabalhos da faculdade e ainda sobra tempo para conversar no Orkut. Se o centro não existisse, não sei o que faria, pois não tenho computador em casa e sou bolsista na faculdade, pelo escola da família, não tenho dinheiro para pagar lan house todo dia”.

jovens usam internet de graça

Existe também, o programa “Acessa São Paulo” do governo do Estado de São Paulo, que, segundo o próprio programa, em oito anos de funcionamento tem 509 postos de acesso em SP e já teve 41,35 milhões de atendimentos.
Os jovens da periferia driblam o preconceito e se mostram também capazes e merecedores de um espaço no mundo globalizado.

Nicolli Oliveira

Capa

Já saiu a 1°revista Na real- a revista da periferia
Essa é a capa da nossa 1° revista...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Chegamos pessoal!

Nicolli Oliveira, Estudante de jornalismo

A “Na Real” foi criada para instruir, divertir e esclarecer dúvidas dos jovens da periferia.
Tentaremos mostrar que tudo é possível se houver real interesse, sem pré-conceitos já estabelecidos por fatores externos (desemprego, falta de estímulo, falta de recursos financeiros) e até mesmo internos (imaginar-se incapaz, aceitar o destino estabelecido pela probabilidade.

domingo, 1 de novembro de 2009

Ta saindo...

Francisco Lima Estudande de Jornalismo

Pessoal,nossa primeira revista já ta quase pronta...
Vamos fala do jovem na periferia, suas perspectivas para o futuro, vontade e sonhos.
Tem também uma matéria sobre drogas, o crescimento das lan houses na periferia e perfil de um jovem talento.

Não percam...

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