sexta-feira, 9 de abril de 2010

Hip hop é alternativa de lazer e aprendizado para o jovem da periferia

Campeonato de Break “Tribos” realizado no bairro do Real Parque

O hip hop é uma das mais populares formas de expressar a cultura dos jovens da periferia no mundo inteiro. No Brasil, foi difundido por volta da década de 1980. Possui quatro elementos básicos distintos, que pregam a não violência e o não uso de drogas.

Por Nicolli Oliveira

“Nossas lanças se tornaram microfones; nossos escudos toca discos. Nossa capoeira fundiu-se na expressão do break; as pinturas que retratavam os feitos históricos de nossos ancestrais, agora são representadas pelo grafitti,e o grito de resistência do nosso povo negro hoje emana das vozes dos rappers(...)” Essa frase dita pelo Dj TR, traduz com perfeição o real significado da cultura hip hop, que não é apenas uma forma de lazer, mas sim filosofia de vida.
O hip hop possui quatro elementos básicos distintos, que são o dj, o rap, o break e o graffiti (ou grafite). Cada um desses elementos teve uma origem diferente e são formas de expressão diferentes, que tanto unificados quanto independentes, fazem parte do mesmo conjunto.
O site www.movimentoenraizados.com.br, que tem como projeto conscientizar o jovem brasileiro, diminuindo assim as desigualdades sociais, explica o que são os quatro elementos:
* O Dj é a parte tocada, é ele quem comanda as batidas e dá ritmo à letra. É o artista responsável pela mixagem, ato de tocar duas músicas ao mesmo tempo igualando seus BPMs (batidas por minuto). Os instrumentos básicos de um DJ são: Pick-ups (toca-discos) e mixer.
* O Rap (rhythm and poetry) é o elemento que compõe a música é a parte cantada ou falada onde os rappers “expressam” suas indignações, amores e ódios.
* O Break (quebra) é a dança, a expressão corporal dos B. Boys (dançarinos). Desempenhou outra função social muito importante que foi a de amenizar as brigas entre gangues, substituindo-as por disputas através de “desafios ou rachas” em rodas de break, com coreografias acrobáticas e estilizadas. Levou este nome pelos movimentos de “quebrar” e por representar uma ruptura cultural com o sistem opressor pós Segundo Guerra Mundial.
* O Graffiti começou com os escritores de hip hop, e ganhou destaque na década de 1970 nos bairros pobres de Nova Iorque quando garotos rabiscavam seus nomes nas paredes fazendo "tags" (assinatura dos grafiteiros). É a expressão através de pinturas e desenhos, levando o hip hop às classes sociais mais altas, através de exposições em galerias de arte, ultimamente muito freqüentes. Tem influência latina e seus maiores graffiteiros vieram de países como Colômbia, Porto Rico, Bolívia e Costa Rica. O graffiti é o único componente do hip hop que é proibido por lei.
Algumas pessoas ou grupos alegam que o hip hop possui mais de quatro elementos, como os membros da “Zulu Nation Brasil”, que prega o hip hop com 5 elementos, além dos quatro já conhecidos um quinto, que seria o conhecimento à cultura, a consciência. O membro zulu tem uma lista de 19 deveres que devem ser seguidos, como por exemplo, os chefes devem ser respeitados, todos devem participar das reuniões e todos devem buscar conhecimento e elevação para darem condições à "selva" do mundo.
Os nomes mais importantes da cultura hip hop no Brasil são King Nino Brown, presidente da Zulu Nation Brasil e Nelson Triunfo, considerado pai do hip hop no Brasil.
Cabelos black power, dread. Negros, mulatos, brancos. Calor humano. Alegria. Amizade. Paz. Estas palavras expressam a primeira impressão de quem participa pela primeira vez de um evento de hip hop em São Paulo, como o “Hip Hop Dj 2009”, realizado em todas as quartas-feiras de outubro e que terá a final no dia 8 de novembro, as eliminatórias tem uma média de público de 280 pessoas, o que mostra grande interesse da população. O evento representa os DJs de hip hop do país há 12 anos e está sendo realizado na Galeria Olido, no centro de São Paulo. "Ocupar a galeria tem muito a ver com valorizar a revitalização do centro da cidade. Ficamos felizes, ainda mais porque a final do evento (no dia 8 de novembro), será no mês da Consciência Negra", relata Dj Big Edy, um dos organizadores do campeonato. O vencedor levará para casa um par de toca-discos Technics e um fone de ouvido, além de ganhar passaparte para a final do DMC Brasil 2010.
O segundo lugar levará um Mixer e um fone de ouvido e o terceiro lugar levará apenas um fone de ouvido.
O evento este ano foi pautado por diversas mídias, como: Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, TV Brasil, blogs e sites. “Há uma negociação com a MTV para cobrir a final do campeonato, mas nada confirmado ainda”.
revela El.

A cultura hip hop, é uma filosofia de vida e cresce a cada dia no país, e não só por modismo, mas por razões sociais, como um grito de socorro da população da periferia que sempre sofreu preconceito. Dj Preto El, organizador do evento Hip Hop Dj 2009 diz que sofreu preconceito por gostar de hip hop inúmeras vezes e esse preconceito começou ainda na escola, praticado justamente pela diretora, que tem como papel orientar os alunos.
Elton Aparecido de Oliveira, 31, mais conhecido como Dj Preto El, é produtor cultural e organizador de vários eventos de hip hop como o 4/4 Batidas e Scratches e o próprio Hip Hop Dj 2009, que organizou juntamente com Dj Big Edy e Dj Zulu.
De acordo com El, o “Hip Hop Dj”, foi por 11 anos o único campeonato de Djs do Brasil, mas hoje já existem outros, como o DMC Brasil(cuja final será realizada em Londres), 4/4 Batidas e Scratches, Confronto DJs, e para o ano que vem está chegando mais um campeonato internacional chamado IDA (International DJs Association). “Eu julgo estes eventos como uma grande perspectiva para quem é, normalmente, oriundo de periferia e, o que cotidianamente tem à disposição são o crime e as drogas”, conclui El.
El, também fala sobre as perspectivas dos Djs em viver da música: “Esse é o sonho de consumo de quem trabalha com música em geral. Poder viver da arte. Mas não é o que acontece normalmente. Temos diversas dificuldades, e uma delas é que precisamos trabalhar com outras coisas para mantermos essa arte em movimento. Até mesmo quem já está inserido na noite (DJs que tocam em casas noturnas) passam por seus apertos, muitos sonham em ter equipamentos para treinar, pois em muitos casos, boa parte não tem o mínimo para poder desenvolver as técnicas.”. El também diz que a maioria dos Djs vêm de comunidades carentes espalhadas pelo Brasil.
Mulheres também participam do movimento hip hop e competem nos quatro elementos. Como é o caso da Dj Lisa Bueno, finalista do Hip Hop Dj 2008, iniciou sua carreira aos 13 anos e hoje é a maior revelação feminina do turnbalism (arte de riscar e criar batidas nos toca-discos). Sobre mulheres atuantes, Lisa diz: "No começo eu ficava nervosa, era sempre a única moça. Tive que ser muito corajosa", hoje comemora a entrada de mais uma mulher nos campeonatos (Dj Simone).

DJ Lisa Bueno, as mulheres estão cada vez mais presentes no turnbalism



Dj Big Edy, um dos organizadores do “Hip Hop Dj 2009”

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